Desafios da Posteridade - Por Elisabet Moreira*


(Foto: arquivo UBE Petrolina)



José Américo de Lima morreu em Petrolina, após longa enfermidade...
Assim poderia começar o “lead” deste fato, mas eu não vou falar como jornalista e, sim, como uma amiga que ele aqui conheceu e confiou.
Sim, em vários aspectos, sobretudo quando vinha, com sua figura alta e esguia, me mostrar originais de algumas de suas obras e isso fez a diferença.
Para saber dele, dados biográficos, por exemplo, é só tomar alguns de seus muitos livros publicados. Orelhas e contracapas apresentam informações gerais.
Trabalhei o seu livro de contos Maratona (Atual Editora, de São Paulo) ainda no CEFET e ele lá compareceu, interagindo com os alunos. Aliás, ele gostava disso, de divulgar seus livros com alunos e colégios. Até mesmo porque a maior parte de seus livros destinava-se para o público infanto-juvenil.
Nascido em Fortaleza, se fez conhecido no Recife e acabou vindo para Petrolina com toda a família. Aqui fundou o núcleo da UBE – União Brasileira de Escritores e lançou vários livros. Inclusive dois deles trabalhavam com aspectos teóricos “O conto e seus caminhos” e “Literatura Infanto-Juvenil – proposta e realidade” do qual eu fiz a apresentação. Também lhe forneci material para o livro sobre o movimento messiânico “Pau-de-Colher” e fiz a revisão. Seu interesse por este aspecto da religiosidade popular já havia sido demonstrada com o romance “Canudos – a maldição dos excluídos”, talvez a sua obra de maior envergadura.
Enfim, sua obra é vasta e falar de todas elas seria um desafio. Por que alguém do curso de Letras não faz uma monografia sobre ele? Ele gostaria – e merece – um olhar mais atento ao conjunto de sua obra, agora que se foi.
Há ainda aspectos especiais de sua personalidade: José Américo amava ópera; sua voz de barítono também ficou registrada num CD. E o cinema? Os vídeos? Outra fascinação. Enfim, um homem culto e cultor de várias artes, preocupado com os caminhos do bem escrever, atento ao que se produzia, principalmente no estado de Pernambuco.
Seu acervo, parece, não ficou na Biblioteca Municipal de Petrolina, já que fez até uma campanha de doação, certa vez. Uma pena, mas a obra de José Américo de Lima há de resistir.
Sugiro até que a UBE, com a anuência da família, publique, ainda que seja em seu boletim, um conto a cada número. Talvez até mesmo com comentários e análises. Assim, ele continuará vivo e atuante.
Afinal, posteridade, nós a produzimos, leitores e amigos.
Salve José Américo de Lima!






*Elisabet Gonçalves Moreira é professora aposentada da UPE e do CEFET de Petrolina. Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP

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