Oito e meia da manhã, terça-feira, de um mês qualquer, de um ano qualquer. Atrasado! Novamente para mais um dia de labor, labor que me cansa as pernas, me torce o tronco e destrói a espinha.
Levanto-me atordoado de uma noite péssima sem sono, corro cambaleando para o banheiro, sem hesitar abro o chuveiro, a água fria da manhã recém nascida golpeia meu rosto, faz me acordar...
Atendo todas minhas necessidades matinais e vou a direção do labor...
Entro em minha sala, sento-me, a minha frente meu principal companheiro de trabalho, lhe dou bom dia...
Não estou totalmente sintonizado com o mundo real, não acordei direito, a cabeça ainda pesa, as pernas e seus músculos ainda por alongar, mas me sento, acomodo-me e começo o laborar.
Abro, fecho, subo, desço, escrevo, apago, ligo, recebo, tudo isso me faz novamente sonhar, me leva de volta ao sono outrora ocorrido em meu leito. Um sono virtual, sugando todo meu ser, fazendo me ver através de toda mentira e ilusão. Alimento-me ali mesmo, bebo, espreguiço, reclamo, agradeço, vejo, xingo, entendo e não sou capaz de compreender o que há por trás disso. O dia se estende por todo o seu próprio dia sendo ele mesmo o mesmo dia. As mesmas horas, os mesmos minutos, o mesmo, o mesmo, o mesmo labor me consome, me castiga, me fadiga...
Os músculos enrijecidos antes não alongados protestam em dores sutis e incomodas.
A cabeça sempre pesada, agora transpõe seu fardo em meus olhos e os mesmos não me deixam ver. Se enxergar além está difícil, pior quando o mundo está na minha frente e tudo vai se distanciando...
É hora de acordar novamente! A noite entrou e meu corpo dilacerado pela inércia pede descanso. Caminho com dificuldade algumas quadras, quarteirões e praças.
Decido nesses instantes mudar a rotina e sento-me em um banco, e fito os últimos momentos do dia. Quando a luz dá lugar a noite e a todas as suas criaturas estranhas. Fico ali estático e impressionado como a escuridão me revela, como somos íntimos, fico em consonância perfeita com as trevas e todas as suas manifestações, as horas passam e eu não as percebo, quando finalmente chega o momento do êxtase, do triunfo, do grande encontro, da fusão, o momento em que a noite mais escura anuncia mais um amanhecer.
Paulo Santana
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